PLAYLIST: Baile Perfumado por Laura Lopes

Era uma vez uma festa

Lá no começo dos anos 2000 um amigo falou: você devia discotecar essas coisas aí que você conhece e ouve. Na época estava viciada na recente possibilidade de pesquisar músicas pela internet (soulseek, meu amor), principalmente de artistas brasileiros. Além das buscas pela rede, havia a troca de cd’s entre os amigos da faculdade (Aldo, Gledison e Rogério, valeu!). A chance de encontrar raridades e coisas independentes sem que precisasse comprar todos os álbuns e descobrir coisas que não tocavam no rádio era linda demais.

Havia uma festa, comentaram, e logo fui conversar com o organizador. A Baraúna, que acontecia semanalmente no IDCH (a famosa balada descalça, ou dos signos, ou apenas o ID – com carinho, para nós) tinha a ideia ousada de tocar só música brasileira, o que na época não era nem um pouco comum. As festas de música brasileira em SP eram bem restritas a ritmos mais populares como o samba-rock, ainda que o cenário de música regional, hip hop, produções contemporâneas estivesse pipocando. A minha cabeça ficava cada vez mais cheia de músicas que pareciam trilhas sonoras muito legais, sem ter alguém pra ouvir. Decidi tocar na festa, mesmo sem a menor ideia de como fazer isto.

A Baraúna dava liberdade pra tocarmos o que quiséssemos. Lá dj não estava só pra botar o som, era protagonista, e a recepção dos frequentadores era igualmente aberta. Essa autonomia dava espaço para que o som não se limitasse e para que a gente pudesse se arriscar em músicas que até então pareciam impensáveis para uma pista.

Por lá passaram sets de black, pop, de música de raiz e de psicodelia, de samba-rock, mangue beat, tudo brasileiro, enfim simpatia total.

Quanto a mim, após o nervosismo inicial antes de cada set, me divertia dividindo com quem estava lá as músicas que até então ouvia sozinha em casa. Fazia muito sentido aquilo tudo. Minha onda como dj não era a técnica e sim o repertório, a pesquisa, as combinações estranhas e ver as pessoas se divertindo também.

do bau
O tempo passou, o ID fechou, comecei a trabalhar como produtora, muitas outras festas de música brasileira começaram a aparecer por aí, mas ainda tenho a sensação de que esta era especial (claro, conta a minha experiência com ela).

Pra registrar um pouco do que era meu set naquela época decidi fazer essa playlist “old school”. Muita coisa não achei no Spotify (principalmente os regionais), porém tá aí, com uma pitada de nostalgia e principalmente muitas boas lembranças.

Por: Laura Lopes

Laura Lopes é produtora cultural. Assina a produção, curadoria e direção de diversos projetos culturais e shows de variados artistas. Desde 2009 atua conosco na Pôr do Som Produções.

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